Entre 2009 e 2014, cursei Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e durante a graduação fiz intercâmbio na Universidade do Texas, em Austin, em 2011. Uma das coisas que eu mais gostei em Austin foi que tínhamos uma carga de leitura grande e fazíamos muitas discussões em aula. Isso me fez considerar a possibilidade de me dedicar exclusivamente à academia, mesmo gostando muito da atuação prática do direito. Na época pensei em fazer um L.L.M (um misto de especialização e mestrado) nos Estados Unidos no futuro, embora soubesse da limitação de bolsas pra L.L.M.
Quando voltei ao Brasil, procurei disciplinas semelhantes às que eu tive nos Estados Unidos, com bastante leitura e discussões em aula. Fiz duas disciplinas na sociologia e senti que era isso que queria estudar. Coincidiu que minha companheira, que cursou jornalismo e fez intercâmbio pra Universidade de San Francisco na Califórnia, também começou a estudar sociologia. Nós dois estávamos em cursos muito práticos, gostávamos da prática, mas queríamos também estudar as coisas mais a fundo. Ela se formou em 2013 e eu no final de 2014. Nesse meu último ano de faculdade, passamos a nos preparar pra seleções de mestrado em sociologia e acabamos os dois entrando na sociologia da USP.
Ficamos na USP entre 2015 e a metade de 2017. O ambiente intelectual da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) foi muito estimulante e consideramos continuar lá no doutorado. Por outro lado, em 2015 o financiamento da universidade já não era o mesmo e inúmeras verbas já tinham sido cortadas (como, por exemplo, para apresentar trabalhos em congresso). Essa dificuldade, somada a outros problemas no país e a nossa experiência nos EUA nos fizeram querer fazer o doutorado fora. Nesse período, passamos um mês e meio no Instituto Internacional de Sociologia do Direito na Espanha, como pesquisadores visitantes. Lá encontramos acadêmicos(as) de diversos lugares do mundo, inclusive alguns do Canadá que nos ajudaram na seleção do doutorado.
Nessa época pensávamos também em aplicar para departamentos nos Estados Unidos, mas conversamos com várias pessoas e chegamos à conclusão que não teríamos condições. Todos os departamentos exigiam o GRE, que é uma espécie de prova que reúne matemática e inglês. Não tínhamos como terminar nossas dissertações e nos preparar para essa prova. Então resolvemos tentar apenas no Canadá, onde o GRE é raramente exigido.
Nos preparamos para a seleção de doutorado entre junho de 2016 e janeiro de 2017 (data final para o envio dos documentos), enquanto fazíamos as nossas pesquisas de mestrado. Desde 2014, eu já vinha juntando informações sobre os programas, as cidades, custo de vida, professores(as), perspectivas profissionais, conversando com brasileiros(as) e estrangeiros(as), lendo blogs, etc. Mas foi em junho que começamos a botar a mão na massa. Foi surpreendente descobrir que o processo de seleção era mais simples do que no Brasil. Pelo menos na sociologia da USP, tivemos que fazer uma prova escrita de quatro horas, apresentar um projeto de pesquisa de 20 páginas, fazer uma prova de línguas, atualizar o lattes e passar por uma entrevista. Para o Canadá, fizemos o TOEFL, escrevemos projetos de pesquisa de só uma página (statement of interest), traduzimos artigos nossos para o inglês (writing sample), pedimos cartas de recomendação a três professores e mandamos traduzir nossos históricos escolares (transcripts).
Cada um de nós aplicou para dois programas de sociologia, na Universidade de York e na Universidade de Toronto. Aplicar apenas para dois departamentos não é comum aqui. A maioria das pessoas aplica para muitos, considerando que o processo é bastante arbitrário. Além disso, seria muito difícil nós dois sermos aceitos no mesmo departamento, considerando que York e Toronto têm uma limitação de vagas para estudantes internacionais (em Toronto costumam aceitar três por ano, por exemplo). Por outro lado, a gente queria ficar na mesma cidade e sabia que poderia tentar de novo no ano seguinte. Essa primeira tentativa era um teste. Mas para tentar aumentar nossas chances, também aplicamos para alguns mestrados de duração de um ano nas áreas específicas da sociologia que estudamos. Eu, por exemplo, apliquei para um mestrado em sociologia do direito em York e um em criminologia na Universidade de Toronto.
Recebemos os resultados entre abril e maio de 2017. Minha companheira foi aceita no doutorado em Toronto e em um mestrado, e eu fui aceito nos dois mestrados, mas não no doutorado. Decidimos que iríamos juntos para Toronto e que eu tentaria aplicar para o doutorado novamente para o ano seguinte. Defendemos nossas dissertações na USP em agosto de 2017 e uma semana depois viemos para Toronto. Nos mudamos para a residência universitária da Universidade de Toronto que cobra um aluguel subsidiado (o valor é menor do que pagávamos em São Paulo morando no Butantã, perto da USP).
Em setembro começaram nossas aulas. Minha companheira começou o doutorado na Universidade de Toronto e eu o mestrado em York (já que o programa de criminologia de Toronto não tinha bolsa para alunos internacionais). Meu prazo para a nova “application” era dezembro. Estando aqui, pude entender melhor como funciona a academia canadense. Então, decidi que o melhor seria apenas aplicar para o doutorado em sociologia da Universidade de Toronto, que percebemos ser uma opção melhor comparada com as outras universidades da região (melhor apoio financeiro, prestígio, mais professores(as) na sociologia do direito, etc.). Estando aqui também pude entender melhor como funcionava o processo de seleção. Consegui cartas de recomendação de professores daqui – o que para algumas bancas (committees) é considerado um diferencial de alunos(as) estrangeiros(as) –, me encontrei pessoalmente com meu potencial orientador, conversei com outros(as) alunos(as) do programa, enfim, reuni informações que me ajudaram a ter um “application package” (o conjunto de documentos que enviamos) mais competitivo. Funcionou e em abril de 2017 fui aceito no doutorado em sociologia da Universidade de Toronto, começando as aulas em agosto de 2018.
Durante esse processo, o que mais fez diferença foi a ajuda de pessoas que sabiam sobre o processo. Durante o curto tempo de preparação, meu inglês não iria melhorar muito, meu conhecimento de sociologia era não iria mudar, e minhas notas eram aquelas. O que eu podia fazer era tentar traduzir o que eu já tinha de um jeito que fosse reconhecido aqui. O problema é que tinha pouquíssima informação na internet sobre mestrado e doutorado no Canadá. Os sites das universidades eram muito genéricos e difíceis de entender. O material para brasileiros na internet é escasso e muito voltado para os Estados Unidos. As melhores fontes de informação que eu tive foram as pessoas que eu contatei e que se dispuseram a me ajudar. Algumas eu achei em fóruns de discussão na internet, outras eu procurei nos próprios sites das universidades e simplesmente mandei e-mail pedindo ajuda. Essas pessoas se dispuseram a esclarecer minhas dúvidas por e-mail, fizeram Skype comigo, leram meu projeto, me ajudaram a traduzir documentos, me deram dicas de como escrever, com quem falar, o que dizer, o que não dizer. Enfim, sem elas, eu não teria tido nenhuma chance. Considerando que nesses últimos anos eu reuni uma boa quantidade de informações sobre o processo de application para o Canadá e que recentemente várias pessoas me procuraram por indicação de amigos pra ajudar no processo, resolvi fazer esse site para compartilhar o que eu aprendi nesse processo e ajudar outras pessoas, como eu fui ajudado.
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